domingo, 21 de dezembro de 2014

POEMAS - ANTONIN ARTAUD * Antonio Cabral Filho - Rj

*
Antonin Artaud - Poeta francês
*

Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre
morto.Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto

Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.
Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.
Este Artaud, mas, por falta do que fazer…

Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria.
 SAIBA MAIS...http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2009/12/15/antonin-artaud-e-sua-loucura-editoria/  
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domingo, 7 de dezembro de 2014

JOSÉ RÉGIO, ALÉM DO CÂNTICO NEGRO * Antonio Cabral Filho - Rj

JOSE REGIO,
Poeta Portugues, autor de um dos poemas mais lindos que eu conheço, Cântico Negro. Leiam-no:

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí.


*
SAIBAM MAIS....

http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=335 
X
http://cvc.instituto-camoes.pt/espelhamentos/11/11.html 
X
http://www.jornaldepoesia.jor.br/ag56regio.htm 
X
http://www.antoniomiranda.com.br/iberoamerica/portugal/jose_regio.html 
X
JOSE REGIO 
recitando em video
https://www.youtube.com/watch?v=TBCd0vuxbFo 
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domingo, 30 de novembro de 2014

domingo, 16 de novembro de 2014

CHARLES BAUDELAIRE 193 ANOS!! * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

*
Charles Baudelaire,
poeta francês, nasceu 09 de abril de 1821. Portanto,
está completando 193 anos. Vamos celebrá-lo!
*
O ALBATROZ

Às vezes, por folgar, os homens da equipagem
pegam de um albatroz, enorme ave do mar,
que segue - companheiro indolente de viagem -
o navio no abismo amargo a deslizar.

E por sobre o convés, mal estendido apenas,
o imperador do azul, canhestro e envergonhado,
asas que enchem de dó, grandes e de alvas penas,
eis que deixa arrastar como remos ao lado.

O alado viajor tomba como num limbo!
Hoje é cômico e feio, ontem tanto agradava!
Um ao seu bico leva o irritante cachimbo,
outro imita a coxear o enfermo que voava.

O poeta é semelhante ao príncipe do céu
que do arqueiro se ri e da tormenta no ar;
Exilado na terra e em meio do escarcéu,
as asas de gigante impedem-no de andar.
&
CORRESPONDÊNCIAS

A natureza é um templo onde vivos pilares
podem deixar ouvir confusas vozes: e estas
fazem o homem passar através de florestas
de símbolos que o vêem com olhos familiares.

Como os ecos além confundem seus rumores
na mais profunda e mais tenebrosa unidade,
tão vasta como a noite e como a claridade,
harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.

Perfumes frescos há como carnes de crianças
ou oboés de doçura ou verdejantes ermos
e outros ricos, triunfais e podres na fragrância,

que possuem a expansão do universo sem termos
como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso
que cantam dos sentidos o transporte imenso.
&
A UMA PASSANTE

A rua em derredor era um ruído incomum,
longa, magra, de luto e na dor majestosa,
uma mulher passou e com a mão faustosa
erguendo, balançando o festão e o debrum;

nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.
Eu bebia perdido em minha crispação
no seu olhar, céu que germina furação,
a doçura que embala e o frenesi que mata.

Um, relâmpago e após a noite! - Aérea beldade,
e cujo olhar me fez renascer de repente,
só te verei um dia e já na eternidade?

Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
tu que eu teria amado - e o sabias demais!

Charles Baudelaire
As Flores do Mal
Tradução, introdução e notas:
Jamil  Almansur Haddad
Edição Cículo do Livro 1995.
*
SAIBA MAIS...
1 - http://www.youtube.com/watch?v=KpNvRD7-a6k
&
2 - http://www.poetry-archive.com/b/baudelaire_charles.html 
&
3 - http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet003.htm 
&*&

domingo, 9 de novembro de 2014

NO CAMINHO COM TORQUATO NETO RUMO A PAUPÉRIA * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

*
TORQUATO, NETO
OS ÚLTIMOS DIAS 
DE PAUPÉRIA,
livro que reúne a sua obra,
organizado por 
Ana Maria S. de Araújo Duarte
e Wally Salomão,
publicado, inicialmente, pela Livraria 
Eldorado Tijuca em 1973 e a seguir, pela
Editora Max LImonad, em 1982.
*
A pureza é um mito,
TORQUATO NETO lê o "aviso" na entrada de uma enfermaria do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, onde foi confrontar consigo mais uma vez, até entregar os pontos no dia 10 de novembro de 1972, um dia após completar 28 anos. Os 70 anos do nosso ANJO TORTO merecem comemorações de todo tipo. Acessem a matéria do ilustre pesquisador Euclides Amaral, no Jornal BAIXADA FÁCIL...http://www.baixadafacil.com.br/colunistas/70-anos-do-anjo-torto-louco-e-doido-torquato-neto-3114.html 

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COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim

*
Desenho de Óscar Ramos
*
Haroldo de Campos, 10 de jan 1974
*
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